quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Julgar um Espírito Crítico


JULGAR UM ESPÍRITO CRÍTICO

Enquanto o Senhor falava sobre receber os pequeninos, João lembrou-se de um homem que eles viram, o qual, acreditavam, devia ser rejeitado. Ele disse: “Mestre, vimos um que, em Teu nome, expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue” (Mc 9:38). Sem dúvida, ao dizer isso ao Senhor, João pensava que iria receber d’Ele tapinhas nas costas e Sua aprovação quanto ao que foi dito ao homem. Mas, em vez disso, o Senhor, nessa passagem, mansamente repreendeu o seu espírito crítico e censurador, dizendo: “Não lho proibais, porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e possa logo falar mal de Mim. Porque quem não é contra nós é por nós. Porquanto qualquer que vos der a beber um copo de água em Meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão” (Mc 9:39-41). Nisso, o Senhor apontou uma segunda coisa que seguramente perturba a paz entre os santos – ser crítico com os outros.
Você pode ver como o criticismo teria naturalmente surgido nos corações dos discípulos. O que aquele homem estava fazendo era particularmente embaraçoso para os apóstolos, porque era algo que eles não podiam fazer! Um pouco antes no capítulo, um homem veio até eles e lhes pediu para expulsar um espírito maligno de seu filho, mas “não puderam” (Mc 9:18). E aqui se deparam com um homem que estava expulsando demônios – a coisa exata que não podiam fazer! Naturalmente, não gostaram e acharam culpa nele. Oh, irmãos, sejamos cuidadosos ao ter descontentamento pela excelência de outra pessoa. Encontrar defeito nos outros normalmente tem o próprio EGO por detrás! Muitas vezes, quando uma pessoa quer se colocar à frente, vai rebaixar a outros. É uma coisa comum e temos visto isso frequentemente.
Isso me lembra duma história que D. L. Moody, o famoso pregador do século 19, costumava contar sobre si mesmo. Ele e Sankey estiveram na Inglaterra em uma turnê de pregação e encontraram um jovem chamado Henry Moorhouse, que pregou e também disse que gostaria de ir para a América e pregar. Então o Sr. Moody o convidou para ir a Chicago pregar em sua igreja, pensando que o homem nunca iria. Bem, algum tempo depois, quando Moody estava de volta na América, ele recebeu um telegrama de Nova York de Henry Moorhouse, perguntando se estaria bem ele ir a Chicago para pregar. Moody relutantemente lhe disse para ir, mas disse que ele não estaria lá, pois tinha um compromisso anterior em outra cidade. Moorhouse foi e pregou sobre João 3:16 – o amor de Deus. Noite após noite ele usou a mesma passagem e teve um efeito significativo em seus ouvintes. Quando Moody voltou, perguntou à esposa como o inglês estava se saindo. Ela não sabia como responder a ele, então disse: “Bem, ele não prega do modo como você prega”. Moody disse, “Logo de cara eu não gostei dele!” Mas o Sr. Moody foi ouvi-lo pregar naquela noite e aquilo teve um efeito tão profundo sobre ele que mudou sua pregação para toda a vida. Moody sempre pregava mensagens do evangelho sobre o fogo do inferno, mas aquele homem conquistava as almas por meio do amor de Deus. Henry Moorhouse tornou-se conhecido como “o homem que abalou o homem que abalou o mundo!” No final, o Sr. Moody teve que engolir suas palavras. Eu acho que o velho ditado, “Em boca fechada não entra mosquito!” ainda é verdadeiro. Talvez não gostemos de alguém porque está fazendo algo pelo Senhor que não é exatamente como pensamos que deveria ser feito, mas isso não é bom. Não vamos ser críticos.
Nas palavras de João, podemos ver qual era realmente o problema dos discípulos. Ele disse: “(nós) vimos um que, em Teu nome, expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue”. Observe quantas vezes João usa “nós” e “nos”. Isso mostra que os apóstolos perderam de vista que o Senhor era o centro e se viam como sendo o centro das coisas! E julgaram a obra daquele homem de acordo com isso. Desnecessário será dizer que o foco deles estava totalmente errado.
Irmãos, precisamos nos proteger de um espírito partidário. É tão fácil cair nisso. Tanto nos tem sido dado – estou falando dos privilégios de sermos reunidos ao nome do Senhor – mas temos que ter cuidado para não pensar que estamos acima de outros Cristãos. É somente pela graça que o Senhor nos reuniu ao Seu nome. Não temos nada para nos orgulhar. Se formos um testemunho, seremos do fato de que a Igreja, como testemunho público do Senhor, está em ruína. Não haveria testemunho remanescente se não houvesse ruína. Isso certamente não é algo para se orgulhar!
Você encontrará nas Escrituras que sempre que o povo desviava os olhos do Senhor e se ocupavam consigo mesmos e com seus privilégios, Deus pronunciava um juízo por meio do qual esses privilégios eram tirados. Vê-se isto em 1 Samuel 4 quando os filhos de Israel estavam numa batalha contra os filisteus. Eles estavam fracos e pensaram que se eles levassem a arca para o campo de batalha iriam ganhá-la. Eles disseram: “Tragamos (nós) de Siló a arca do concerto do Senhor, e venha no meio de nós, para que nos livre da mão de nossos inimigos” (1 Sm 4:3). Observe, novamente, que era tudo “Nós”! Quando a arca chegou entre eles, gritaram com grande voz. Era uma espécie de júbilo porque tinham a arca e porque eram o povo escolhido de Deus. Não que isso não fosse verdade, mas o foco deles estava em si mesmos e não no Senhor, e Ele não Se identificaria com isso, e permitiu que a arca fosse tomada deles.
De novo, nos dias de Jeremias, o povo estava fraco, e se gloriava no fato de que pertenciam a um lugar onde a presença do Senhor estava, e onde Ele tinha colocado Seu nome, dizendo: “Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr 7:4). O Senhor disse (por intermédio de Jeremias) que deveriam se lembrar do que aconteceu em Siló, onde Ele estabeleceu Seu nome inicialmente. Ele tirou o Seu nome de Siló e iria tirar deles também em Jerusalém (Jr 7:12-16).
Também nos dias de Miquéias, o profeta disse: “edificando a Sião com sangue e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de vós, Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque” (Mq 3:10-12). As pessoas estavam fracas e ocupadas com Jerusalém como o centro divino onde a presença do Senhor estava, mas novamente, o Senhor prometeu tirar o centro divino deles.
E em Apocalipse 3:14-22, a assembleia em Laodicéia estava ocupada com ela mesma e com o que tinha, mas pouco sabiam que o Senhor estava prestes a vomitá-los da Sua boca! Não é um alerta para nós? O que o Senhor fará conosco hoje se estivermos ocupados com o nosso lugar no centro divino de reunião? Ele nos humilhará como Ele prometeu fazer com Seu povo Israel. “Porque então tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no Meu monte santo. Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor” (Zc 3:11-12). Talvez seja por isso que temos tais dificuldades.
O Senhor repreendeu os apóstolos por terem um espírito crítico para com aquele homem que evidentemente não era contra eles. O homem não estava andando no caminho em que o Senhor chamou os apóstolos, mas eles deveriam deixar isso com Deus. Note: o Senhor não disse a Seus discípulos para se juntarem ao homem. E eu não acredito que o Senhor queria que nós seguíssemos um caminho pelo qual outros Cristãos podem estar andando, só porque pode haver alguma bênção aparente nele. Estamos cercados de denominações religiosas que professamente dizem estar fazendo algo para o Senhor, mas Ele nos chamou para fora disso. Reunimo-nos somente em Seu nome. Devemos deixar isso com o Senhor. Isso me lembra de “Eldade” e “Medade” que permaneceram no campo e profetizaram. Josué falou a Moisés, mas Moisés disse: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito!” (Nm 11:29). Note novamente, que Moisés não disse a Josué para se juntar a eles. Ele devia deixá-los com Deus. Paulo tinha a atitude apropriada quando disse: “Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda” (Fp. 1:18).
Assim, não vamos nos concentrar em nós mesmos, e nem nos erros de outras pessoas como parece ter ocorrido com o profeta Isaías. Ele era como um homem em um quarto com seis janelas. Ele olhou por uma janela e viu o monopolista, e lamentou: “Ai!” (Is 5:8-9). Ele olhou pela outra janela e viu o bêbado, e gritou: “Ai!” (Is 5:11-12). Ele se virou e olhou pela terceira janela e viu o libertino e novamente gritou: “Ai!” (Is 5:18-19). Ele olhou pela quarta janela e viu o hipócrita, e gritou outro “Ai!” (Is 5:20). Depois olhou para a quinta janela e viu o filósofo satisfeito com sua sabedoria, e novamente gritou: “Ai!” (Is 5:21). Ele olhou para fora da sexta janela e viu os líderes e magistrados injustos, e clamou: “Ai!” novamente (Is 5:22-23). Isaías viu muitas coisas que não eram certas entre o povo de Deus, e ele lamentou com um “Ai” sobre tudo o que ele viu que estava errado.
Então no próximo capítulo (6) essas janelas se fecham e uma janela no topo de sua câmara é aberta. Através dela flui a glória de Deus e de repente Isaías vê a si mesmo à luz da santidade de Deus – como Deus o viu. Ele viu sua própria condição miserável e gritou um sétimo Ai, mas desta vez era sobre si mesmo! “Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros” (Is 6:5).
É fácil apontar as falhas de outros, mas lembre-se, “Aquele que joga lama perde chão!” Independentemente de quão verdadeira possa ser a falha, só as apontar não vai ajudar a melhorar a situação. Precisamos chegar ao sétimo Ai, por assim dizer, em nossas almas, onde veremos que fracassamos e contribuímos para o estado de fraqueza entre o povo de Deus. Precisamos ver que não somos melhores do que nossos irmãos. Só depois de Isaías colocar a mão em seu próprio coração e assumir seu próprio fracasso e parte na ruína entre o povo de Deus que o Senhor pôde usá-lo! No oitavo versículo, o Senhor o chamou para uma obra pela qual profetizaria para ajudar o povo de Deus. Ele ainda apontou os erros, mas também foi capaz de trazer os princípios da restauração, como visto no resto de suas profecias.
Em outra ocasião, os filhos dos profetas clamaram: “há morte na panela”. Eles podiam ver que algo estava errado. Mas não é preciso uma pessoa espiritual para identificar isso. As coisas que estão erradas são relativamente fáceis de identificar, mas é preciso um homem de Deus como Eliseu para trazer um remédio. Ele disse: “Trazei, pois, farinha. E deitou-a na panela” (2 Rs 4:38-41). Isso mudou tudo – o problema foi resolvido. A farinha fala de Cristo. Precisamos introduzir Cristo e Seus direitos, e então as questões serão resolvidas. Quando Cristo tem Seu lugar legítimo na assembleia haverá cura e bênção. “As mil peças de prata são para ti, ó Salomão [uma figura de Cristo], e duzentas, para os guardas do seu fruto” (Ct 8:12).
Este princípio é válido para este mundo também. Hoje o mundo está cheio de violência e corrupção, mas nos é dito no Salmo 72: “Ele [Cristo] descerá como a chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Nos Seus dias florescerá o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a Lua” (Sl 72:6-7). Quando Deus trouxer Seu Primogênito ao mundo e Ele tomar Seu lugar de direito, haverá paz e bênção.

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