JULGAR UM ESPÍRITO CRÍTICO
Enquanto o Senhor falava sobre receber os pequeninos, João lembrou-se de
um homem que eles viram, o qual, acreditavam, devia ser rejeitado. Ele disse: “Mestre,
vimos um que, em Teu nome, expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho
proibimos, porque não nos segue” (Mc 9:38). Sem dúvida, ao dizer isso ao
Senhor, João pensava que iria receber d’Ele tapinhas nas costas e Sua aprovação
quanto ao que foi dito ao homem. Mas, em vez disso, o Senhor, nessa passagem, mansamente
repreendeu o seu espírito crítico e censurador, dizendo: “Não lho proibais,
porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e possa logo falar mal de Mim.
Porque quem não é contra nós é por nós. Porquanto qualquer que vos der a beber
um copo de água em Meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos
digo que não perderá o seu galardão” (Mc 9:39-41). Nisso, o Senhor apontou
uma segunda coisa que seguramente perturba a paz entre os santos – ser
crítico com os outros.
Você pode ver como o criticismo teria naturalmente surgido nos corações
dos discípulos. O que aquele homem estava fazendo era particularmente
embaraçoso para os apóstolos, porque era algo que eles não podiam fazer! Um
pouco antes no capítulo, um homem veio até eles e lhes pediu para expulsar um
espírito maligno de seu filho, mas “não puderam” (Mc 9:18). E aqui se
deparam com um homem que estava expulsando demônios – a coisa exata que não
podiam fazer! Naturalmente, não gostaram e acharam culpa nele. Oh, irmãos,
sejamos cuidadosos ao ter descontentamento pela excelência de outra pessoa. Encontrar
defeito nos outros normalmente tem o próprio EGO por detrás! Muitas vezes,
quando uma pessoa quer se colocar à frente, vai rebaixar a outros. É uma coisa
comum e temos visto isso frequentemente.
Isso me lembra duma história que D. L. Moody, o famoso pregador do
século 19, costumava contar sobre si mesmo. Ele e Sankey estiveram na
Inglaterra em uma turnê
de pregação e encontraram um jovem chamado Henry Moorhouse, que pregou e também
disse que gostaria de ir para a América e pregar. Então o Sr. Moody o convidou
para ir a Chicago pregar em sua igreja, pensando que o homem nunca iria. Bem,
algum tempo depois, quando Moody estava de volta na América, ele recebeu um
telegrama de Nova York de Henry Moorhouse, perguntando se estaria bem ele ir a
Chicago para pregar. Moody relutantemente lhe disse para ir, mas disse que ele
não estaria lá, pois tinha um compromisso anterior em outra cidade. Moorhouse foi
e pregou sobre João 3:16 – o amor de Deus. Noite após noite ele usou a mesma
passagem e teve um efeito significativo em seus ouvintes. Quando Moody voltou,
perguntou à esposa como o inglês estava se saindo. Ela não sabia como responder
a ele, então disse: “Bem, ele não prega do modo como você prega”. Moody disse, “Logo
de cara eu não gostei dele!” Mas o Sr. Moody foi ouvi-lo pregar naquela noite e
aquilo teve um efeito tão profundo sobre ele que mudou sua pregação para toda a
vida. Moody sempre pregava mensagens do evangelho sobre o fogo do inferno, mas aquele
homem conquistava as almas por meio do amor de Deus. Henry Moorhouse tornou-se
conhecido como “o homem que abalou o homem que abalou o mundo!” No final, o Sr.
Moody teve que engolir suas palavras. Eu acho que o velho ditado, “Em boca
fechada não entra mosquito!” ainda é verdadeiro. Talvez não gostemos de alguém
porque está fazendo algo pelo Senhor que não é exatamente como pensamos que
deveria ser feito, mas isso não é bom. Não vamos ser críticos.
Nas palavras de João, podemos ver qual era realmente o problema dos
discípulos. Ele disse: “(nós) vimos um que, em Teu nome, expulsava
demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos
segue”. Observe quantas vezes João usa “nós” e “nos”. Isso mostra que os
apóstolos perderam de vista que o Senhor era o centro e se viam como sendo o
centro das coisas! E julgaram a obra daquele homem de acordo com isso.
Desnecessário será dizer que o foco deles estava totalmente errado.
Irmãos, precisamos nos proteger de um espírito partidário. É tão fácil
cair nisso. Tanto nos tem sido dado – estou falando dos privilégios de sermos
reunidos ao nome do Senhor – mas temos que ter cuidado para não pensar que
estamos acima de outros Cristãos. É somente pela graça que o Senhor nos reuniu
ao Seu nome. Não temos nada para nos orgulhar. Se formos um testemunho, seremos
do fato de que a Igreja, como testemunho público do Senhor, está em ruína. Não
haveria testemunho remanescente se não houvesse ruína. Isso certamente não é
algo para se orgulhar!
Você encontrará nas Escrituras que sempre que o povo desviava os olhos do
Senhor e se ocupavam consigo mesmos e com seus privilégios, Deus pronunciava um
juízo por meio do qual esses privilégios eram tirados. Vê-se isto em 1 Samuel 4
quando os filhos de Israel estavam numa batalha contra os filisteus. Eles
estavam fracos e pensaram que se eles levassem a arca para o campo de batalha
iriam ganhá-la. Eles disseram: “Tragamos (nós) de Siló a arca do
concerto do Senhor, e venha no meio de nós, para que nos livre da
mão de nossos inimigos” (1 Sm 4:3). Observe, novamente, que era tudo
“Nós”! Quando a arca
chegou entre eles, gritaram com grande voz. Era uma espécie de júbilo porque
tinham a arca e porque eram o povo escolhido de Deus. Não que isso não fosse
verdade, mas o foco deles estava em si mesmos e não no Senhor, e Ele não Se identificaria
com isso, e permitiu que a arca fosse tomada deles.
De novo, nos dias de Jeremias, o povo estava fraco, e se gloriava no
fato de que pertenciam a um lugar onde a presença do Senhor estava, e onde Ele
tinha colocado Seu nome, dizendo: “Templo do Senhor, templo do Senhor,
templo do Senhor é este” (Jr 7:4). O Senhor disse (por intermédio de
Jeremias) que deveriam se lembrar do que aconteceu em Siló, onde Ele
estabeleceu Seu nome inicialmente. Ele tirou o Seu nome de Siló e iria tirar
deles também em Jerusalém (Jr 7:12-16).
Também nos dias de Miquéias, o profeta disse: “edificando a Sião com
sangue e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por
presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas
adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor
no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de
vós, Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de
pedras, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque” (Mq 3:10-12). As
pessoas estavam fracas e ocupadas com Jerusalém como o centro divino onde a
presença do Senhor estava, mas novamente, o Senhor prometeu tirar o centro
divino deles.
E em Apocalipse 3:14-22, a assembleia em Laodicéia estava ocupada com
ela mesma e com o que tinha, mas pouco sabiam que o Senhor estava prestes a
vomitá-los da Sua boca! Não é um alerta para nós? O que o Senhor fará conosco
hoje se estivermos ocupados com o nosso lugar no centro divino de reunião? Ele
nos humilhará como Ele prometeu fazer com Seu povo Israel. “Porque então
tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te
ensoberbecerás no Meu monte santo. Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e
pobre; e eles confiarão no nome do Senhor” (Zc 3:11-12). Talvez seja por
isso que temos tais dificuldades.
O Senhor repreendeu os apóstolos por terem um espírito crítico para com aquele
homem que evidentemente não era contra eles. O homem não estava andando no
caminho em que o Senhor chamou os apóstolos, mas eles deveriam deixar isso com
Deus. Note: o Senhor não disse a Seus discípulos para se juntarem ao homem. E
eu não acredito que o Senhor queria que nós seguíssemos um caminho pelo qual
outros Cristãos podem estar andando, só porque pode haver alguma bênção
aparente nele. Estamos cercados de denominações religiosas que professamente dizem
estar fazendo algo para o Senhor, mas Ele nos chamou para fora disso.
Reunimo-nos somente em Seu nome. Devemos deixar isso com o Senhor. Isso me
lembra de “Eldade” e “Medade” que permaneceram no campo e
profetizaram. Josué falou a Moisés, mas Moisés disse: “Tens tu ciúmes por
mim? Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu
Espírito!” (Nm 11:29). Note novamente, que Moisés não disse a Josué para se
juntar a eles. Ele devia deixá-los com Deus. Paulo tinha a atitude apropriada
quando disse: “Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com
fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda” (Fp.
1:18).
Assim, não vamos nos concentrar em nós mesmos, e nem nos erros de outras
pessoas como parece ter ocorrido com o profeta Isaías. Ele era como um homem em
um quarto com seis janelas. Ele olhou por uma janela e viu o monopolista,
e lamentou: “Ai!” (Is 5:8-9). Ele olhou pela outra janela e viu o bêbado,
e gritou: “Ai!” (Is 5:11-12). Ele se
virou e olhou pela terceira janela e viu o libertino e novamente gritou:
“Ai!” (Is 5:18-19). Ele olhou pela
quarta janela e viu o hipócrita, e gritou outro “Ai!” (Is 5:20). Depois olhou para a quinta janela e viu o filósofo
satisfeito com sua sabedoria, e novamente gritou: “Ai!” (Is 5:21). Ele olhou para fora da sexta janela e viu os líderes
e magistrados injustos, e clamou: “Ai!”
novamente (Is 5:22-23). Isaías viu muitas coisas que não eram certas entre o
povo de Deus, e ele lamentou com um “Ai”
sobre tudo o que ele viu que estava errado.
Então no próximo capítulo (6) essas janelas se fecham e uma janela no
topo de sua câmara é aberta. Através dela flui a glória de Deus e de repente
Isaías vê a si mesmo à luz da santidade de Deus – como Deus o viu. Ele viu sua
própria condição miserável e gritou um sétimo Ai, mas desta vez era sobre si
mesmo! “Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios
impuros” (Is 6:5).
É fácil apontar as falhas de outros, mas lembre-se, “Aquele que joga lama
perde chão!” Independentemente de quão verdadeira possa ser a falha, só as
apontar não vai ajudar a melhorar a situação. Precisamos chegar ao sétimo Ai,
por assim dizer, em nossas almas, onde veremos que fracassamos e contribuímos
para o estado de fraqueza entre o povo de Deus. Precisamos ver que não somos
melhores do que nossos irmãos. Só depois de Isaías colocar a mão em seu próprio
coração e assumir seu próprio fracasso e parte na ruína entre o povo de Deus
que o Senhor pôde usá-lo! No oitavo versículo, o Senhor o chamou para uma obra
pela qual profetizaria para ajudar o povo de Deus. Ele ainda apontou os erros,
mas também foi capaz de trazer os princípios da restauração, como visto no
resto de suas profecias.
Em outra ocasião, os filhos dos profetas clamaram: “há morte na
panela”. Eles podiam ver que
algo estava errado. Mas não é preciso uma pessoa espiritual para identificar
isso. As coisas que estão erradas são relativamente fáceis de identificar, mas é
preciso um homem de Deus como Eliseu para trazer um remédio. Ele disse: “Trazei,
pois, farinha. E deitou-a na panela” (2 Rs 4:38-41). Isso mudou tudo – o
problema foi resolvido. A farinha fala de Cristo. Precisamos introduzir Cristo
e Seus direitos, e então as questões serão resolvidas. Quando Cristo tem Seu
lugar legítimo na assembleia haverá cura e bênção. “As mil peças de prata
são para ti, ó Salomão [uma figura de Cristo], e duzentas, para os
guardas do seu fruto” (Ct 8:12).
Este princípio é válido para este mundo também. Hoje o mundo está cheio
de violência e corrupção, mas nos é dito no Salmo 72: “Ele [Cristo] descerá como a chuva sobre a erva
ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Nos Seus dias florescerá o
justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a Lua” (Sl
72:6-7). Quando Deus trouxer Seu Primogênito ao mundo e Ele tomar Seu lugar de
direito, haverá paz e bênção.
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